Arte Paisagista no Norte de Portugal

Inventário de Sítios de Interesse

Ficha de Inventário

Referência: VRVR0049
Designação: Avenida Carvalho Araújo
Tipologia: Avenida / Praça / Largo
Propriedade: Pública
Distrito: Vila Real
Concelho: Vila Real
Freguesia: S. Dinis
 
Uso Actual: A Avenida Carvalho Araújo é, ainda hoje, o principal centro cívico da cidade de Vila Real.
Espaço público de gestão camarária, situa-se no centro histórico e comercial da cidade e congrega, em torno de si, os principais edifícios públicos de Vila Real – Tribunal, Câmara Municipal, Governo Civil - e ainda espaços referenciais como a Sé, o Seminário, a Casa de Diogo Cão, a Casa de Camilo Castelo Branco (Casa dos Azevedos), a Casa dos Marqueses de Vila Real e, mais recentemente, o Conservatório Regional de Música.

A Sé Catedral e o Pelourinho Municipal são elementos classificados pelo IPPAR, a primeira como monumento nacional.
 
Descrição
O espaço que hoje se designa de Avenida Carvalho Araújo começa a surgir durante o século XV com a construção do Campo do Tabulado, decorrente da expansão da cidade para norte, a partir da "Vila Velha" (a povoação primitiva que até ao século XIV se encontrava amuralhada no promontório a sul, entre os rios Corgo e Cabril). É também nesta altura de expansão que começam a aparecer as primeiras infra-estruturas de canalização de água fora das muralhas da "Vila Velha" e os pontos para a sua distribuição à população – os chafarizes.

Já no século XIX, em 1860, ao Tabulado expande-se alguns metros para sul, como resultado da demolição de alguns edifícios que limitavam este terreiro, tais como a Capela do Espírito Santo (hoje reconstruída no campus da UTAD) e o antigo Hospital-Albergaria.

Pouco mais tarde (1890-1891), é construído o Mercado Fechado, junto do limite norte da Avenida (onde hoje se encontra o edifício dos CTT), que acabou por trazer grandes benefícios em termos cívicos e no impulso ao crescimento da cidade. O Campo do Tabulado, desde 1860 como terreiro, foi nivelado, arborizado e compartimentado, dando origem, na sua metade situada mais a sul, ao Jardim das Camélias e na sua metade norte, à Praça Luís de Camões. É ainda durante este período que é instalado um chafariz metálico em frente à Sé, são pavimentados os passeios a lajeado de granito. O Jardim das Camélias e esta beneficiação vinha animar toda a frente do antigo Hotel Tocaio.

Já no século XX, por volta de 1919, o Tabulado começa a transformar-se novamente pela demolição dos edifícios que ainda o limitavam a sul, como os Paços do Concelho, o Teatro High-Life e o Tribunal, para transformar aquela área numa alameda que continuasse o jardim das camélias até ao actual edifício da Câmara (o Palácio dos Freitas). É contudo com esta expansão que o jardim das camélias é demolido, passando novamente a terreiro. As referências descrevem a intenção de abrir uma artéria visual mais ampla e dividida em duas secções de nivelamento (uma plana, a sul, e outra inclinada, a norte) que vista do lado sul teria como pano de fundo, no topo norte, o Quartel-General (local actual do edifício do Tribunal) e vista do lado norte teria no topo sul a Câmara Municipal. O Campo tinha, em traços gerais, 350 metros de comprimento e 30 metros de largura. Embora o alinhamento com as edificações laterais não fosse perfeito, o campo visual era já alargado. Surgiu um traçado pontuado com tílias e palmeiras de porte considerável, sobre saibro. Procedeu-se também à pavimentação da estrada com laje irregular de granito.

No princípio dos anos de 1930, decorreram importantes obras de remodelação da Avenida, nomeadamente, de ajardinamento de canteiros (com relva, roseiras, buxo e camélias), arborização com robíneas alinhadas nos passeios laterais e centrais, colocação de novos candeeiros, pavimentação da rua a paralelepípedo de granito. Em Outubro de 1931, para homenagear Carvalho Araújo, foi colocado um monumento no terço superior da Avenida, que tomou o seu nome. Neste contexto, o Chafariz Metálico colocado em frente da igreja de S. Domingos (actual Sé), foi transferido para a Praça Luís de Camões, então já limitada à área que hoje conhecemos. O Chafariz passou a ter apenas função ornamental.

Entre 1938 e 1941 procedeu-se à pavimentação dos passeios da Avenida a mosaico de calcário e basalto e à pavimentação e ajardinamento dos passeios do Largo Conde de Amarante. É também nesta altura que é colocada, no terço inferior da avenida, a fonte “Art Déco”.

Posteriormente, entrando pelos anos 1950, a Praça Luís de Camões é terraplanada e alterada para o desenho modernista que hoje existe, colocando-a numa posição de cota superior à avenida Carvalho Araújo e é enquadrada por novos edifícios típicos do período do estado-novo, o Palácio da Justiça, o Palácio dos Correios e Caixa Geral de Depósitos.

Entre os anos 60 e 70 do século XX, várias remodelações foram acontecendo pontualmente. As robíneas foram substituídas por vidueiros; alguns edifícios foram demolidos para a abertura da avenida da marginal 1º de Maio; retiraram-se os ajardinamentos de parte do terço inferior da avenida e do Largo conde de Amarante, onde em 1975 se colocou o Chafariz do Tabulado; fizeram-se alguns reajustes no traçado para melhorar a circulação do trânsito; retirou-se a fonte “Art Déco” (passando para o largo do Liceu Camilo Castelo Branco), erguendo-se naquele local, a 10 de Junho de 1972, uma estátua em homenagem aos Soldados de Portugal; foi também colocado novo mobiliário urbano.

Aproximadamente a partir de 1996 os vidueiros começaram a ser substituídos gradualmente por liquidambares, o que ainda hoje (2008) vem a acontecer.

Em 1996, o Pelourinho Municipal é removido do Largo da Câmara, encontrando-se hoje no Largo do Pelourinho, no lado oposto da Avenida, relativamente à Sé.

Em 2001, finalizam-se as alterações radicais de traçado, que a Câmara Municipal deliberou fazer-se no terço inferior da avenida, em consequência da construção de um estacionamento subterrâneo.

Recentemente, com o Programa Polis propôs-se, em Plano de Pormenor, a reformulação de toda a avenida, para que se assegurasse apenas uma faixa de circulação, no lado dos correios, passando toda a outra área a ser pavimentada, embora esta proposta não tivesse sido implementada.

Quanto ao estado de conservação da Av. Carvalho Araújo, nota-se uma grande carência na manutenção e renovação do mobiliário urbano que está bastante degradado (bancos, papeleiras, iluminação); a calçada muito irregular, pouco confortável para a circulação pedonal; o pavimento de circulação automóvel também necessita de ser regularizado. As peças ornamentais da Avenida, nomeadamente as fontes, necessitam de uma limpeza especializada. No que diz respeito à estrutura verde, as árvores de arruamento estão descompassadas e esteticamente desfavorecidas; os canteiros apresentam excessiva sobre-elevação em relação à cota dos passeios adjacentes e à grande desorganização e degradação da vegetação, com uma manutenção deficiente.

Tal como já referido, a Avenida foi sujeita a uma intervenção que muito a descaracterizou (2001), ao nível do seu traçado formal. O projecto resultou numa praça totalmente impermeabilizada e sem relação formal com o restante traçado.

[FM 5/2008] [FM R-15/11/2008]
 
Informação
Adicional:
NOGUEIRA, Vitor, 2001, Águas Públicas de Vila Real: do século XII ao Século XX, 1ª edição, Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Vila Real.
TÓRO, Bandeira, 1943, Distrito de Vila Real, Tomo I- O Concelho de Vila Real, “A Hora”.
SOUSA, Fernando de, e GONÇALVES, Silva, 1987, Memórias de Vila Real, Arquivo Distrital de Vila Real.
AZEVEDO, Correia, 1970, Vila Real, Câmara Municipal de Vila Real, Vila Real.
VASCONCELOS, José Leite, 1980, Etnografia Portuguesa, Vol. II, Imprensa Nacional - Casa da Moeda.
Museu de Vila Real, Bernardino Raul Trindade Chagas (190- 1929), Museu de Vila Real.
História ao Café nº 4, de 9 de Dezembro 1997, fotografias de Carlos Relvas (1891), Museu de Vila Real.
História ao Café nº 11, de 17 de Março 1998, Colecção de cartazes de espectáculos de 1892 a 1910 de José Augusto Pinto de Barros, Museu de Vila Real.
História ao Café nº 28, de 8 de Dezembro 1998, O mercado fechado de 1885 (fotografia), Museu de Vila Real.
História ao Café nº 80a, de 19 de Junho 2001, as águas Vila Real, Museu de Vila Real.
História ao Café nº 80b, de 19 de Junho2001, As águas Vila Real, Museu de Vila Real.
História ao Café nº 89, de 5 de Março 2002, A estátua de Vila Real, Museu de Vila Real.
História ao Café nº 90, de 20 de Março 2002, Os Paços do Concelho ao longo dos tempos, Museu de Vila Real.
Jornal o “Povo do Norte” nº 25, Domingo, 16 de Maio de 1920.
Jornal o “Povo do Norte” nº 36, Domingo, 1 de Agosto de 1920.
Revista Tellus nº 28 de Junho de 1998, páginas 31-33 e 38.
Revista Tellus nº 30 de Junho de 1999, página 25.
DREC "Postais Ilustrados de Vila Real

"
 
Campo de Edição
Pública:
  clique para introduzir informação sobre este sítio
 
Fotos Levantamento 2005/2007
Imagens de Arquivo